terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ciência alerta para o lado amargo do açucar




Consumo de açucar no mundo triplicou nas últimas cinco décadas
(Foto: Dominique Torquato / AAN)
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Doenças crônicas como diabete, câncer e problemas de coração já são as maiores causas de morte no mundo e estão diretamente ligadas ao consumo de álcool, cigarro, gorduras e açúcar. Cientistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), afirmam que um dos grandes responsáveis pela mudança na saúde pública é o açúcar. Segundo os pesquisadores Robert Lustig, Laura Schmidt e Claire Brindis, os malefícios do consumo de açúcar no organismo humano são semelhantes aos promovidos pelo álcool.

O pesquisador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Lício Augusto Velloso explica que, quando ingerimos o açúçar, o nível no sangue sobe muito rápido e faz com que as células do pâncreas tenham que responder rapidamente, produzindo muita insulina. “Como resultado, pode desenvolver resistência à insulina e levar à falência das células que produzem a substância, aumentando a predisposição para desenvolver a diabete”, afirma Velloso. 

O especialista acrescenta que os açúcares agem diretamente no hipotálamo, uma região do sistema nervoso central que atua no controle da fome. “O açúcar faz com que o indivíduo não controle mais a fome, passe a comer mais e aumente as chances de desenvolver a obesidade.” Outro efeito negativo é o aumento do nível de triglicerides no sangue. “Esse aumento está diretamente relacionado ao surgimento de doenças cardiovasculares”, completa.

O consumo mundial de açúcar triplicou nos últimos 50 anos. E os pesquisadores defendem que, assim como acontece com o álcool e o cigarro, o uso de açúcar também deveria ser regulado. A sugestão deles é que a regulação inclua a taxação de produtos industrializados açucarados, a limitação da venda desses produtos em escolas e a definição de uma idade mínima para a compra de refrigerantes.
O que dificulta essa regulação é o fato de o açúcar estar presente em alimentos. “Regular o consumo de açúcar não será fácil, especialmente nos mercados emergentes, de países em desenvolvimento, nos quais refrigerantes são frequentemente mais baratos do que leite”, diz o estudo.

A pesquisa norte-americana, publicada na Nature, diz que os países que adotaram uma dieta baseada em alimentos processados e de baixo custo tiveram um aumento em suas taxas de obesidade e de doenças relacionadas a esse problema. Segundo o estudo, 80% das mortes provocadas por doenças não transmissíveis ocorrem nos países de rendas média ou baixa. Se, antes, o maior problema era a desnutrição, hoje é a obesidade: há 30% mais pessoas obesas do que desnutridas.

O artigo diz que, nesse caso, a obesidade não é o “X” dessa questão. “Vinte por centro das pessoas obesas têm metabolismo normal e terão uma expectativa de vida também normal. Ao mesmo tempo, cerca de 40% das pessoas com pesos considerados normais desenvolverão doenças no coração e no fígado, diabete e hipertensão.”

Cérebro de obeso funciona diferente
Uma pesquisa realizada no Laboratório de Sinalização Celular (Labsincel), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, revelou que o cérebro de obesos funciona de forma diferente do das pessoas magras. Os cientistas verificaram que o hipotálamo de pacientes obesos apresenta padrões distintos de funcionamento se comparados aos demais indivíduos. Essa região do cérebro é a responsável pelo controle da fome e do gasto energético.

Os estudos foram conduzidos pela pesquisadora Simone van de Sande Lee e coordenados pelos professores Lício Augusto Velloso, Fernando Cendes e Li Li Min.

Um dos hormônios desse processo é a leptina, produzida no tecido adiposo e responsável por levar ao sistema nervoso central a informação sobre a quantidade de energia que está sendo estocada. Quando essa comunicação fica comprometida, torna-se cada vez mais difícil controlar a ingestão de alimentos e o gasto de energia.

Primeiro, os cientistas estudaram camundongos e, depois, iniciaram os testes com pacientes com obesidade mórbida. De acordo com a cientista, a atividade no hipotálamo dos obesos não é tão intensa como a registrada nos magros. (PA/AAN)

Hora do cafézinho
O pesquisador e professor da Unicamp Lício Augusto Velloso destaca que a alimentação saudável incluiu uma boa quantidade de carboidratos complexos, os amidos com fibras. Substituir o uso do açúcar para adoçar cafés e sucos por adoçantes já reduz significativamente o consumo desse tipo de carboidrato. “Quanto menos utilizar açúcar para adoçar, melhor. Uma simples mudança de hábito ajuda muito, como trocar açúcar pelo adoçante e usar refrigerantes light”, ensina.

Consumo cobra a conta no futuro
O pediatra José Espin Neto orienta que o consumo de açúcar deve ser mínimo e controlado desde a primeira infância. “Temos que alertar que essa gostosura que usamos na primeira infância terá um tributo muito pesado na vida adulta, como diabete, obesidade e hipertensão”, explica.

Segundo Espin, ainda existe resistência muito grande em restringir o açúcar. “Uma orientação que dou às mães é que não se deve acrescentar o açúcar no leite da criança, ele já tem açúcar, que é a própria lactose”, afirma o médico.

O maior problema que os pais enfrentam para disciplinar a alimentação dos pequenos é a escola. O convívio com outras crianças e as propagandas de doces e achocolatados tornam a missão mais difícil. Por outro lado, podendera Espin Neto, “muitas escolas estão desempenhando papel importante e melhorando a alimentação”.

A cantina do Colégio Lyon, em Campinas, não vende sucos e salgadinhos industrializados, doces, frituras e achocolatados com alto teor de sódio. “Os salgados são assados e tudo é feito na hora, fresco. O suco é natural ou com polpa”, completa a coordenadora pedagógica Simone Vaccari.

Os pais também são orientados quanto à alimentação e as crianças não podem levar lanches que não se enquadrem no padrão. “Procuramos orientar e ajudar os pais na tarefa de criar bons hábitos alimentares”, diz a diretora da escola, Gabriela Velasco.

A coordenadora do Colégio Renovatus, Márcia Corrêa, diz que, muitas vezes, a dificuldade é mudar o hábito alimentar dos pais. “Por mais que a gente fale sobre a importância de reduzir o consumo de açúcar, às vezes abrimos a lancheira e vemos doces e alimentos condimentados”, explica.

Ela acrescenta que a escola terceirizou a cantina e uma nutricionista elaborou um cardápio infantil. “Eles vendem frutas, barras de cereal, não temos balas, chicletes e doces. Os sucos são naturais e, no caderno de recados, enviamos dicas e comunicados sobre nutrição. Nosso foco é a reeducação”, afirma.






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